Manual de Budismo é um norte para quem quer se aprofundar nos ensinamentos
O Budismo é conhecido por seu enfoque nos aspectos práticos, sem que o discípulo/estudante esqueça de se aprofundar na filosofia que permeia toda a abordagem. A equanimidade, um dos pontos-chaves da escola do caminho do Meio, remete para que não se negligencie esses dois aspectos, ou seja, a teoria e a prática, o conhecimento intelectual e a técnica devem literalmente andar juntas. Aprimorando-se por esse caminho, acredita-se, o praticante desenvolve a tão almejada sabedoria. Junte-se a isso a compaixão, e pronto! Há aí um forte indício de que realmente se está trilhando o caminho do Budha.
Pensando nisso, o Lama Zopa Norbu (professor Roque Enrique Severino), diretor para São Paulo do Jardim do Dharma (Centro de Estudos e Prática do Budismo Vajrayana da linhagem Karma Kagiu), acaba de compilar um manual com o que há de mais relevante, em sua opinião, tendo por base os ensinamentos de mestres de várias tradições.
Trata-se de um verdadeiro guia que explica, de forma geral, desde a tomada do refúgio, quando o discípulo se compromete perante as Três Jóias (o Budha, o Dharma e o Sangha) a não descansar enquanto não atingir a iluminação para o benefício de todos os seres, passando pela história do Budismo Tibetano e sua aproximação com a tradição Bön, até as orientações mais elaboradas e deixadas para todos através dos mantras.
Perguntado sobre o que lhe inspirou a compilar tal material, Zopa Norbu diz que o objetivo é contribuir para que o aluno possa estudar os temas em profundidade, já que o grande problema é fazer com que as pessoas entendam o verdadeiro significado do que é abordado no Dharma (o corpo de instruções no budismo). “Um professor que não estimula os alunos a estudarem certamente é porque já lhes oferece todas as respostas, e isso, de certa forma, pode desencadear uma relação nociva, de domínio. Neste manual, o leitor terá ao menos uma boa base para iniciar algum tipo de treino”, garante o Lama, que irá distribuir a compilação gratuitamente.
Debate
Por ter tradição oral e de fomento aos debates, o Budismo Vajrayana é bem recebido no ocidente. Como o próprio Dalai Lama falou em sua recente visita ao Brasil, em setembro último, o Budismo Tibetano remonta à universidade de Nalanda (situada na Índia e destruída pelos mulçumanos há vários séculos), onde era comum uma tese ser discutida à exaustão, uma prática que mais recentemente lembraria a dialética de Marx. No entanto, de acordo com o lama Zopa, o que se vê no Brasil, ainda, é uma introdução a todo esse profundo conhecimento e mística. “O Budismo Vajrayana ainda não é totalmente apresentado aos ocidentais. O que se observa de forma geral é a aparência externa, as cores, as pinturas e os rituais elaborados. O aluno tem que ficar atento, pois em 1980 os grandes lamas que vieram ao ocidente (Europa e América, não ao Brasil) e o próprio Dalai Lama retiraram das livrarias todos os livros publicados, pois perceberam o grande erro que foi cometido em mostrar o Tantra para pessoas completamente desqualificadas”, alerta o Lama, numa clara demonstração de que a orientação no trantrismo (o Budismo Vajrayana também é chamado de Budismo Tântrico) requer muito mais do que um mero ritual bem elaborado.